Amuss, todas juntas pela vida das mulheres
Na última quinta-feira, 15 de maio, mulheres de Farroupilha e região organizaram vigília no Largo Carlos Fetter, pelo fim da violência contra a mulher e como forma de lembrar e homenagear vítimas de feminicídio

O ato, intitulado “Todas Juntas pela Vida das Mulheres – Unidas pelo Fim da Violência e por Justiça”, foi organizado pelo Conselho Estadual de Direitos da Mulher/RS e a realização local é da AMUSS, Associação de Mulheres Sementes da Serra, e ocorreu simultaneamente em Porto Alegre, Feliz, Caxias, Veranópolis e outros municípios do estado. Uma ação silenciosa, iluminada, mas com a vibração e a força de mulheres que se unem para lutar e acolher outras mulheres.
O estopim para a ação foi o aumento alarmante dos casos de feminicídio no estado. Apenas no feriado da última Sexta-feira Santa, 10 mulheres foram assassinadas em quatro dias no Rio Grande do Sul, revelando a brutalidade de um problema sistêmico que atinge todas as classes sociais e regiões do estado.
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul apontam que nos três primeiros meses de 2024, mais de 20 mulheres foram mortas por razão de gênero. Além disso, foram contabilizados 83 tentativas de feminicídio e, somente neste ano 17.
A violência doméstica segue como uma das principais causas de morte entre mulheres, e muitas vítimas já haviam feito denúncias ou solicitado medidas protetivas, que não foram suficientes para evitar o desfecho fatal.
Segundo os indicadores de violência contra a mulher divulgados pelo Governo do Estado e atualizados até março deste ano, o município de Farroupilha registrou 23 casos de lesão corporal, 56 ameaças e 2 estupros. Em comparação aos dados estaduais no mesmo período, observa-se que o Rio Grande do Sul contabilizou 5.415 casos de lesão corporal, 8.416 ameaças e 515 estupros.
Esses números demonstram que, mesmo em municípios de porte médio como Farroupilha, os índices de violência de gênero permanecem relevantes, reforçando a necessidade de ações preventivas, políticas públicas eficazes e espaços seguros para acolhimento e apoio às mulheres.
O nascimento do Movimento AMUSS
A Associação de Mulheres Sementes da Serra (AMUSS) nasceu em 2025 desse contexto de dor, mas também de esperança. Formada por mulheres da região com diferentes histórias e saberes, a associação surgiu como uma resposta organizada e coletiva a essa realidade.
Conforme Morgana Pelicioli, uma das integrantes do movimento a semente, símbolo do movimento, representa a resistência, a transformação e a vida que brota mesmo nos terrenos mais áridos. “O grupo começou a se formar a partir de conversas informais e trocas entre mulheres que sentiam a urgência de fazer algo diante da violência que as cercava. Essas mulheres decidiram formalizar a associação justamente para atender demandas da comunidade e planejar projetos concretos de atuação”, destaca.
Entre seus objetivos, estão: Criar redes de acolhimento e escuta segura para mulheres vítimas de violência; oferecer oficinas, cursos e formações que incentivem o empoderamento feminino e a geração de renda; estabelecer núcleos de apoio psicológico, jurídico e social em parceria com voluntárias e profissionais da região; dar visibilidade a histórias silenciadas, combatendo o isolamento e o medo; mobilizar a sociedade e buscar junto ao poder público políticas efetivas de proteção às mulheres; e fomentar o protagonismo feminino, com espaços de convivência, expressão cultural e fortalecimento coletivo, entre outros.
- A AMUSS busca criar uma estrutura de mulheres para mulheres, com base comunitária, para que nenhuma precise enfrentar a violência sozinha.
Morgana conta que a associação ainda está em fase de estruturação e registro formal. O grupo começou a se reunir este ano de forma espontânea e voluntária, movido por indignação, empatia e senso de urgência. “Ela está sendo construída o a o, com reuniões entre mulheres de diversas áreas, formações e experiências. Estão sendo definidos o estatuto, diretoria, conselhos e os primeiros projetos sociais, para iniciar ações concretas ainda este ano. Mesmo recente, a AMUSS já nasce com raízes profundas: a dor de tantas mulheres que não foram ouvidas e a vontade coletiva de não deixar mais nenhuma sozinha”, acrescenta.
- As integrantes ressaltam que todas as mulheres são convidadas a fazer parte do AMUSS. Quem tiver interesse pode entrar em contato pelo Instagram @amuss.serragaucha.
